Eu sempre gostei de trilhar. Trilhar e acampar. Trilhar e aventurar. Mas claro, com segurança e sem perrengue. O máximo de dias de sol possíveis. Sem passar frio, sem enfrentar chuva. Você pode pensar que isso que eu gosto não existe. Mas vou te dizer que estou quase chegando lá. No início, não existia aventura perfeita mesmo. Antigamente eu só conseguia fazer passeios definindo com muita antecedência o dia e combinando com a turma, e daí era uma loteria. O tempo podia estar bom; podia estar ruim… Acho que a previsão do tempo melhorou um pouquinho nesses últimos 20 anos, mas o fato é que descobrimos vários pequenos truques para a “satisfação garantida” em qualquer projeto de aventura. Claro que ainda não é possível dar 100% de garantia mas, hoje em dia, todos os imprevistos que nos acontecem acabam se tornando aquela pitada de adrenalina que todo passeio de risco, como esse que vou contar agora, tem que ter!
Já fui duas vezes ao PP. A primeira foi um ataque. Uma loucura! Não recomendo porque todo mundo que fala que faz o PP em 6 ou 5 horas está super em forma, é corredor de montanha ou crosfiteiro, o que não é o meu caso. Sou uma pessoa comum, pratico atividade física, não dá pra dizer que eu seja sedentária. Mas estou bem longe da figura do atleta. Se você resolver ir e voltar ao PP no mesmo dia, esteja preparado. Vai cansar, vai doer, e não vai dar tempo de apreciar as infinitas paisagens do caminho.
Para compensar a loucura do ataque, meu namorado me convidou para fazer o PP em não um dia, mas em três. Isso mesmo! Um dia para ir, outro para passear lá por cima e outro para voltar. Claro que ele fez isso depois de consultar a previsão do tempo. Sol garantido. Nos três dias. Temperatura amena em se tratando do inverno Curitibano (duas semanas antes o PP tinha congelado, e não é minha praia passar frio).
Para quem tinha conseguido fazer, ainda que com sofrimento e dor, o PP em um único dia, fazer em três acabou me parecendo meio soft demais. Mas, não foi. Primeiro que levamos mochila e aí é tuuudo diferente. A ideia inicial era acampar no Camelo, ou seja, começar a trilha da Fazenda Paraná, passar pelo Getulio, seguir a trilha sentido PP, passar a entrada do Itapiroca, seguir pelo A1, chegar ao A2 e fazer a curva à direita para o Camelo, esse mais baixinho que se desloca do “complexo” PP. Nada disso. Começamos meio tarde, as 13h30, e só chegamos no A1 às 19h30. Cansados, de noite, com fome. Decidimos ficar por ali mesmo, estava tudo vazio (escolhemos pegar o contrafluxo, ou seja, começamos a viajem no domingo a tarde, quando todo mundo que aproveitou o fim de semana já estava regressando – é preciso evitar o risco-Covid). A gente pensava que no dia seguinte era só relaxar, em duas horinhas o PP estaria ali. Só que não são duas horas, são três. E mesmo sem mochila, a subida é bem íngreme. Do A1 para o A2 é uma pernada forte, com vários grampos que assustam os tementes à altura. Sabe aquela sensação de que se der algo errado você vai cair num abismo? Pois é, a sensação rola várias vezes. E não é só sensação. Há risco. Real. Imagina com mochilão? Agradeci por ter montado acampamento no A1, dá pra ver o nascer do sol de vários lugares, não precisa estar no cume. Ressalto: o sol é companheiraço a partir do A1. Existem trechos que em que nos metemos na mata, mas ela é baixa, composta por pequenas árvores, um capim meio palha (não sei o nome dele, mas tem por toda a serra do Itibiraquire), muitas caratuvas e poças de lama. Sim, no alto da montanha tem lama! Principalmente nos trechos em que a mata é mais alta, ou no meio do capim. Acampar não rola em qualquer lugar não! E isso é bom, porque não dá pra fazer um “loteamento” na base do PP. Estamos em parque estadual! É preciso garantir que haja uma quantidade moderada de pontos de acampamento para possibilitar que as pessoas desfrutem da natureza sem agredi-la. Queremos o PP preservado, a floresta ali disponível para todos os seus moradores (fauna e flora).
Pois é, então chegamos no A2! Uma comemoração! Agora só faltava o trecho final, mais 40 minutinhos subindo sem parar. Com um visual espetacular. 360 graus de maravilhas. Dá pra contemplar uma infinidade de picos: o Caratuva, o Itapiroca, o Tucum e o Camapuã. Camelo, e lá longe os Agudos. Pra qualquer lado que você olha dá vontade de tirar uma foto. Muda um pouco o ângulo para cá, muda para lá. E contempla as nuvens. As nuvens lá embaixo! Sim, porque o tempo todo em que estivemos lá, havia nuvens baixas no chão da paisagem. Contemplar essas nuvens é o melhor suvenir para os montanhistas.
E foi com muita animação que chegamos ao cume, ao verdadeiro cume! A gente quase não acredita: então agora chegamos mesmo? Parece brincadeira, mas subimos e descemos tantos morros para chegar no PP que é difícil acreditar que a espera acabou. Eu chamo o PP de “complexo PP”, porque ele parece um paredão de montanhas unidas como se estivéssemos escrevendo manualmente a letra eme, umas três vezes sem parar. Mas na real, a imagem que milhares de pessoas reconhecem como sendo a cara do PP, é apenas dos picos Paraná, União e Itibirati.
Chegamos ao cume, exploramos o cume, só nosso. As clareiras, os pontos de acampamento. A pedra onde está a caixa de metal que contém o livro dos viajantes. Assinamos o livro, agradecemos a bênção de estar ali. Subimos na pedra. Tiramos aquela foto… e meu namorado tirou da mochila de ataque o fogareiro, as panelas e a comida. Porque acampamento comigo tem que ser de luxo! Cozinhamos um delicioso macarrão com verduras frescas e atum. Pra tomar um tang feito na hora e de sobremesa torta de banana feita antes do acampamento. Pra coroar uma sonequinha ao sol do cume, que pra isso ficamos três dias! O cume do PP só para nós! Quer maior luxo que esse?
Ai, ai…. só de lembrar já sinto aquele calorzinho. Até o vento parou pra gente descansar. Em uma linda tarde de inverno do sul do Brasil… Gente, fiquei até com preguiça de continuar. Tem muito mais aventura na descida, mas aí eu conto na próxima! Beijão